Para ser

Alimentar esse espaço exige certa disciplina. Mas acontece que sou uma artista caótica. Minha arte é descontínua, não linear, nasce e cresce de acordo com anseios que muitas vezes não consigo compreender/alcançar. A escrita é o que em mim existe de mais importante, mas os dias me engolem, me entretenho em outros detalhes, o que ainda não está pronto em mim me leva para lugares distantes, talvez seja cedo demais para dizer tudo o que preciso, talvez amanhã…

Não escrever é como não existir, quando não escrevo, estou me preparando para. E não estou. Respeito os silêncios, quando estamos abertos para sermos nós mesmos, existe uma força em nós que apreende tudo, que compreende tudo, ou tenta, ao menos, compreender: os ruídos, as falhas, as hesitações, o entre, o entretanto, o talvez, o quase, o nunca, mas talvez o nunca não exista.

Mais um ano acaba, e me sinto uma sobrevivente. Imersa num hiato, num intervalo entre o que termina e o que virá, o futuro próximo, antes que se torne pretérito, as possibilidades são imensas, mas me abraçam e me mastigam em lampejos, como raios. Nada nunca termina. Me prometo mais experiências. Me prometo permitir cicatrizes, no lugar das ataduras. Temperos de lugares ainda não explorados. Amar sem medidas. Terminar (ou recomeçar) a me ver/ter/ser pelo avesso. Não mentir. Reunir o que existe de humanidade em mim para resistir às barbáries cotidianas, à violência institucionalizada, ao maldito retrocesso, poetizar minha vida, não violentar meu cotidiano, alcançar um lugar seguro em mim que garante que simplesmente valeu a pena.

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