Luiz Matheus e o olho que vê

                   Artistas se reconhecem à distância. Foi o que ocorreu quando conheci o Luiz. Em minhas aulas de Sociologia, há alguns anos, ele falava a respeito do filme Laranja Mecânica, e de outras referências pouco comuns a esse público. Encantada, eu trocava algumas ideias com ele, e sabia que nosso encontro duraria. Porque, além de se reconhecerem à distância, os artistas não se largam.

                Nosso reencontro aconteceu em 2016, quando ofereci um curso de Criações Artísticas e Intervenções Urbanas no MiranteLab. Luiz contribuiu de tantas formas que não consigo elencar. Criou e desenvolveu uma oficina de Lambes, dentro do próprio curso. Inundou nossas mentes de criatividade e referências preciosas. Em nossos encontros posteriores, entre pichações em espaços públicos da cidade, comida nordestina com muita farinha e cafés com bolos deliciosos, brotavam ideias, esboços de projetos, conversas sobre a existência e a filosofia nietzschiana, sobre as doenças psíquicas que assolam a sociedade, e, sobretudo, compartilhamos nosso desejo de liberdade.

                Certo dia, Luiz me mostrou algumas fotos que fez na manifestação contra a Reforma da Previdência. E tive fome. Fome de tentar expressar em palavras o que as fotos me fizeram sentir, fome de prestar uma homenagem à nossa amizade e à peculiaridade sutil e ao mesmo tempo agressiva do seu olhar.

                O que ele vê, afinal? Corpos. Borrados, disformes, num movimento pouco óbvio. O corpo que protesta é o corpo que dança, grita, existe e reverbera. E o olho que vê reveste esse protesto de fúria e doçura. Eu poderia tecer comentários a respeito de sua estética, da escolha do enquadramento, de seu poder de síntese – dizer tudo dizendo muito pouco, provavelmente devido à sua formação em Design, mas prefiro me ater às infinitas possibilidades que seu olhar descortina.

                Porque o olho que vê, recria.

                Esse é o milagre da fotografia.

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Quer saber mais sobre a não-genialidade de Luiz Matheus? Veja aqui: Um não-Gênio

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